terça-feira, 17 de julho de 2012

Continuação...


Tem-se aqui a combinação perfeita para injetar ânimo e insuflar o consumo e os investimentos.
Mas o PIB não dá sinais de reação. Por quê? Uma primeira explicação estaria nos efeitos da crise do euro e  do pálido crescimento dos países ricos. Mas só isso não explica a desaceleração. Sofrendo as mesmas pressões externas negativas,as economias de Chile,Peru e Colômbia têm projeção de crescimento de 5% para este ano. O Brasil perdeu gás por motivos mais profundos. Há dez anos o governo não faz nenhuma reforma significativa com impacto positivo no principal indutor da riqueza: a produtividade. A melhora na infraestrutura foi medíocre em todo esse período,fazer negócios continuou a ser um pesadelo burocrático e tributário,e a qualidade da mão de obra evoluiu - mas pouco. O crescimento econômico mais rápido,enquanto durou,foi resultado das políticas de crédito barato,que não podem ser mantidas indefinidamente,e do empuxo das reformas feitas,na década anterior. Tudo isso,claro,impulsionado pela valorização dos principais itens de exportação - a produção agrícola e os minérios. A balança comercial favorável trouxe bilhões de dólares e alimentou a expansão do crédito. Agora,sem o vento externo a favor,os antigos gargalos voltam a estrangular o PIB. Ficou caro produzir no Brasil,por causa da alta no custo em fatores como eletricidade e mão de obra,e as indústrias têm optado por importar componentes e até mesmo produtos acabados,no lugar de ampliar os investimentos. Apesar de todos os incentivos,as engrenagens da economia giram em falso.
Confrontando com a letargia do PIB,o governo,em vez de se dedicar a projetos que diminuam as amarras ao investimento privado e libertem as forças do mercado,optou por redobrar a carga de suas intervenções na economia.
Elevou a tributação dos investimentos e empréstimos internacionais,restringiu a compra de terra por estrangeiros.interveio na cotação do dólar,tolerou a inflação acima da meta,colou barreiras aos produtos importados e passou a favorecer o aumento do conteúdo nacional em diversas áreas,sobretudo na indústria automobilística e ainda mais na produção de petróleo. Afirma o economista Eduardo Giannetti da Fonseca: ''O país já havia avançado no processo de uma melhor definição da fronteira entre o estado e os mercados livres,mas agora há uma certa confusão no ar. É um efeito muito claro da crise de 2008,que acabou por legitimar uma tentação que já existia. O flanco se abriu,e o governo gostou da brincadeira''. COm as políticas dirigistas,o governo pensou que estaria plantando as sementes de um ''Brasil Maior'',para usar o nome de um dos pacotes planaltinos. Colheu o pibinho.
''A desaceleração da economia mostra que não basta baixar os juros e elevar o câmbio. É preciso devolver a confiança ao investidor de que o cenário benigno vai se manter'',diz o economista Felipe Salto,da Tendências Consultoria. A mão pesada do estado brasileiro poderia ser acionada para cortar gastos públicos e fazer reformas que tragam o custo do país a padrões compatíveis com o crescimento rápido e sustentável. Em entrevista recente,Carlos Ghosn,presidente mundial da Renault-Nissan,revelou que é mais barato importar aço sul-coreano feito com minério brasileiro para fabricar seus automóveis do que comprar diretamente das siderúrgicas brasileiras.
A produtividade média da economia,medida pela quantidade que cada trabalhador produz,ficou estagnada na última década. A exceção é a agropecuária,cuja produtividade tem avançado a um ritmo médio superior a 4% ao ano.
Boa parte desse ganho se deve às pesquisas da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária,a estatal Embrapa,um caso exemplar,mas tristemente único.de como o governo pode incentivar o desenvolvimento.
A agropecuária brasileira sofre com a logística deficiente,mas mesmo assim resiste e avança; São inúmeros os exemplos de problemas clamando pela mão salvadora do estado. Um deles: o custo para transportar o algodão produzido na Bahia até o Porto de Santos é o dobro do que se cobra pelo frete marítimo de Santos até a China. A Ferrovia Norte-Sul poderia derrubar o custo de escoamento. As obras estão a cargo da estatal Valec,cujos ex-dirigentes respondem por crimes de superfaturamento e corrupção. Cadê a mão do estado forte para tirar a ferrovia do papel? Nessa hora a mão do estado fica fraca e trêmula.
O modelo econômico brasileiro,tão bem-sucedido no decorrer dos últimos dez anos,está se esgotando.

Bj Luxe

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